ERA UMA CASA …
Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela não
Porque na casa não tinha chão… [1]
Este é mais um episódio da série “Senta que lá vem história tributária”. No capítulo de hoje tratarei mais uma vez de como a tributação influi na arquitetura ou vice-versa [2].
Quem já visitou o Cairo deve ter tido a oportunidade de ver construções de casas inacabadas; não por falta de recursos financeiros de seus moradores, mas sim por uma questão fiscal.
Na década de 50, o então governo incentivou tais construções populares com a promessa de um benefício tributário. Os moradores apenas pagariam o imposto sobre os imóveis após o término das respectivas construções. E a profecia foi cumprida.
Esta foi a deixa para que tais moradores deixassem de concluir suas residências, assim portanto, estariam isentas deste imposto. Com o dinheiro economizado, investiram no acabamento interno de seus lares em detrimento do externo.
Herança desta época, a cidade até hoje está repleta de prédios cinzas, incompletos e com pequenos cômodos inacabados; forma criativa encontrada para evitar indefinidamente o imposto predial.
Sempre que um cômodo é completado, em paralelo, há algum outro sendo construído ou em reforma, assim a obra “nunca” termina.
Mas era feita com muito esmero
Na Rua dos Bobos, número zero
Mas era feita com muito esmero
Na Rua dos Bobos, número zero [3]
[1] Vinicius De Moraes / Sergio Bardotti
[3] Vinicius De Moraes / Sergio Bardotti